"Porque o silêncio das vossas palavras vos impede
de ouvir as palavras dele dentro das vossas.
Eu fumo cigarros intermináveis e o meu olhar
desenha fumo na luz e os meus dedos largam cinza
nas primeiras exigências da primavera.
Tudo sonhei, napoleão nero, tudo sonhei e tudo
se perdeu nos braços vazios desse menino a
embalar outro menino, ah, se eu pudesse imolar-te
menino que fui e todos os teus sonhos de não
saber senão sonhar, se eu pudesse tornar-te na
memória de um que morreu antes de nascer e
que ficou no precipício de poder ter sido tudo.
Sim, a primavera, sim, chegou a primavera e a
irritação solene das andorinhas a voarem tristes.
Ardem-me cigarros entre os dedos e eu sou esta
figura de fumo a mexer-se pesado no ar da sala,
este corpo grande de fumo a desfazer-se e a ser
cada vez mais denso a cansar cada vez mais
e a recordar-me tantos rostos que quero esquecer
e tu, lídia diotima desdémona dulcineia, quando a
tua cara se o inverno se recusa onde o teu rosto,
se esta sala é só a escuridão de eu não ser nada,
chegarás da rua e trarás na face todos os sorrisos
e todos os olhares desses com que partilho a desgraça
de pertencer à espécie dita humana e que reneguei,
obrigar-me-ás a abraçar-te tocando com nojo todos esses
que desprezo como desprezo a pesta e a lepra."
Muito muito bom... Sem dúvida.
ResponderEliminarAinda não o li. Sou também um grande seguidor seu mas com muita pena minha não tenho tido tempo para nada de jeito. Com esta tua partilha conseguiste adocicar ainda mais a vontade de o ler. Obrigado.
ResponderEliminarOra essa. :)
ResponderEliminarObrigada eu pela aparição. Ainda ontem pensei em ti. *
:) Como estás?
ResponderEliminarEstou bem e tu? *
ResponderEliminarParabéns!!! :D
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